sábado, 15 de maio de 2010

Os Senhores e a Senzala

No dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel assinou no Brasil a Lei Áurea, que finalmente abolia a escravatura e libertava os negros das terríveis algemas impostas por um contexto social horripilante, dogmático e cruel.
Mas deste contexto social só mudaram as pessoas, pois os dogmas, as imposições e as crueldades ainda continuam nos prendendo em vidas medíocres, cheias de humilhação, medos e sonhos. Sendo estes, os que nos fazem permanecer em pé, na busca ou simplesmente na esperança de que um dia alcançaremos um mundo igualitário e digno.
É nítido observar que a maneira de escravizar uma pessoa mudou. Na época da escravatura bastava apenas comprar um escravo e obter um recibo, constando o nome do proprietário. Hoje, para isso, basta apenas ter mais de 16 anos e possuir carteira de trabalho. Em alguns lugares, até mesmo a carteira de trabalho e os 16 anos são dispensados, criando-se leis paralelas e extremamente parecidas com as que existiam no período colonial deste tão sofrido país.
Os vínculos familiares na época da escravatura eram quase inexistentes, pois os negros eram vistos como produtos e não como pessoas, portanto eram vendidos como objetos individuais, sem sentimentos ou história, sempre se distanciando de suas famílias (assemelhando-se ao que acontece nos petshops, onde os futuros donos avaliam a aparência do produto, colocam a mão dentro da jaula, retiram o animal, colocam uma fita vermelha sobre a cabeça e levam para casa, na esperança do animal conseguir ostentar, por mais um tempo, a vida moderna).
Mas agora, os vínculos familiares não são mais inversamente proporcionais à distância, pois ferramentas como o computador, internet e telefone reduziram drasticamente este problema. O problema agora é algo mais complexo, pois mesmos quando juntas, as famílias não possuem laços familiares. São estranhos que dividem cômodos frios e sem vida, no qual a televisão tomou o espaço das conversas, o computador tomou o espaço do lazer e o dinheiro tomou o espaço do amor.
A tortura e as humilhações também sofreram uma drástica evolução. Agora não somos mais torturados em praças públicas, com açoites e chicotes. Agora sofremos calados.
Sofremos calados quando não termos condições financeiras de darmos uma boa educação. aos nosso filhos. Sofremos calados quando nos olham “da cabeça ao pé”, nos dizendo que nossas vestimentas não estão na moda ou não são adequadas aos padrões sociais. Sofremos quando trabalhamos o dia todo, durante o mês inteiro, e não conseguirmos colocar comida na mesa, ou quando conseguimos, não nos sobra sequer um tostão para um momento de lazer. Sofremos calados, quando chegamos à uma idade avançada e vemos que a nossa vida foi em vão e tudo o que conseguimos deixar para trás são pessoas como nós, que serão escravizadas e torturadas da mesma maneira. Sofremos calados, quando os chicotes não nos causam mais hematomas externos, mas sim câncer e depressão, devido à uma vida infeliz e cheia de estresse.
Assim, é nítido observar que as algemas sofreram uma grande evolução. Passaram de algemas de ferro, trancadas com chaves e cadeados, para algemas imaginárias, impostas por uma sociedade fria, egoísta e controlada por poucos, que por terem muito se sentem os senhores da atual senzala.

Escrito por: Lenon Mendes http://lenonmendes.blogpsot.com

Um comentário:

  1. Quem sofre calado?
    Vc que escreveu este texto ou eu que não compro produtos que fazem mal a minha saúde?
    o exemplo fala pouco, mas diz muito.

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